25 de Maio: Dia Internacional da Tireoide
A tireoide é uma glândula que produz hormônios que são essenciais para o funcionamento do organismo em todas as etapas de nossas vidas. Afeta o desenvolvimento e crescimento na criança, o metabolismo, a função de diversos órgãos e a fertilidade.
As doenças da glândula são muito frequentes. A tireoide pode aumentar de tamanho homogeneamente ou na forma de nódulo(s), benigno ou maligno. Quando deixa de produzir hormônios adequadamente ocorre o hipotireoidismo e quando ela produz em excesso, o hipertireoidismo. Ambas situações trazem consequências negativas para o organismo.
Deve-se dar atenção especial ao feto e neonato, pois o hipotireoidismo nestas fases da vida causa graus variáveis de retardo mental irreversíveis se não for tratado precocemente. Por isto, é extremamente importante a avaliação da tireoide da gestante para garantir sua ingestão adequada de iodo (usado pela tireoide da mãe e do feto para produzir os hormônios).
Dúvidas mais comuns
1) Qual a função da tireoide?
A tireoide é uma glândula localizada na região anterior do pescoço abaixo da cartilagem cricóide, conhecida como pomo de Adão. Ela é formada por dois lobos, que ficam dispostos de cada lado da traquéia, e pelo istmo que une os dois lobos fazendo com que a glândula tenha formato semelhante ao de uma borboleta.
A sua principal função é produzir os hormônios tireoidianos triiodotironina (T3) e tetraiodotironina (T4). A tireoide produz principalmente o T4 e este vai ser transformado perifericamente (dentro das células nos tecidos alvo) em T3, que é o hormônio ativo. O T3 vai se ligar a receptores no núcleo das células, estimulando o funcionamento das mesmas.
O hormônio tireoidiano age em praticamente todos os órgãos, estimulando várias funções, como se fosse a gasolina do corpo humano. O hormônio tireoidiano age no coração controlando os batimentos cardíacos; no intestino controlando o peristaltismo e frequência de evacuações, na temperatura corporal, no humor, na memória; e outras funções cognitivas.
Age também no osso, no músculo e no tecido adiposo. Nas mulheres pode alterar a ciclo menstrual e ovulação quando ocorrem disfunções tireoidianas.
O hormônio tireoidiano é extremamente importante para a formação do sistema nervoso central no feto e no neonato e a deficiência destes hormônios, o hipotireoidismo, durante esta fase da vida gera retardo mental que pode ser irreversível se não tratado no primeiro ano de vida.
2) Principais problemas relacionados à glândula tireoide? Por que ocorrem?
A tireoide pode ter alteração funcional ou anatômica. Quanto à alteração anatômica, esta pode ser pela presença de nódulos (bócio uninodular ou multinodular) ou pelo crescimento uniforme da glândula (bócio difuso).
O bócio, chamado popularmente de papo, significa qualquer aumento da tireoide, seja de forma difusa ou nodular. O bócio difuso pode ocorrer nas disfunções tireoidianas, que será comentado posteriormente, ou quando ocorre deficiência de iodo também chamado de bócio endêmico. O bócio endêmico é mais raro no Brasil devido à implementação do iodo no sal de cozinha a mais de uma década.
Os nódulos são detectados ao exame clínico, ou seja, pela palpação do pescoço, em 4-7% da população e em 95% dos casos são benignos. No caso dos malignos os pacientes são submetidos a tireodectomia total (retirada da glândula) e reposição hormonal. Felizmente a grande maioria dos casos de câncer de tireoide tem um prognóstico excelente quando manejados de forma adequada.
A tireoide pode ter dois tipos de disfunção: o hipotireoidismo, quando funciona menos do que o necessário; e o hipertireoidismo, quando a glândula funciona mais do que deveria. Estas disfunções são, na maioria dos casos, geneticamente herdadas e outros membros da família também são acometidos por estas disfunções.
Tanto o hipotireoidismo como o hipertireoidismo são doenças autoimunes. O indivíduo produz anticorpos contra a própria tireoide, bloqueando ou estimulando o seu funcionamento, respectivamente.
O hipotireoidismo é a alteração mais frequente da tireoide. Sua prevalência em mulheres é em torno de 10% e aumenta na menopausa, ficando em torno de 12 a 15% nesta fase. Em homens é menos frequente e sua prevalência é em torno de 3%. A incidência do hipotireoidismo em mulheres é de 4/1000 por ano e nos homens de 0,6/1000 por ano.
3) Como é feito o diagnóstico das disfunções tireoidianas?
O TSH é o hormônio estimulador da tireoide, ele é produzido pela hipófise e controla o funcionamento da tireoide. Quando ocorre o hipotireoidismo o TSH se eleva para estimular a glândula e quando a tireoide está hiperfuncionante, o TSH fica suprimido.
O TSH, o T4 e o T3 são utilizados em conjunto para avaliação da função tireoidiana, sendo o TSH o exame mais robusto.
Argumenta-se que o estabelecimento de normalidade mais refinado, refletiria melhor a “saúde tireoidiana” do que os valores atualmente adotados. Este assunto é de fundamental importância porque se relaciona com a realização de rastreamentos populacionais para disfunções tireoidianas e com a determinação do momento adequado para que a terapia de reposição hormonal seja iniciada, assim como na determinação do intervalo ideal dos valores de TSH dentro do qual os pacientes em tratamento para o hipotireoidismo devem manter seu TSH sérico. O atual valor normal do TSH sérico é de 0,4 a 4 mUI/L, algumas instituições recomendam a redução desses valores, ressaltando que 95% da população dos indivíduos eutireoidianos saudáveis apresentam um TSH sérico entre 0,4 e 2,5 mUI/L.
A Sociedadade Americana dos Endocrinologistas Clínicos considera o valor normal de TSH de 0,3 a 3,0 mUI/L
4) Por que o emagrecimento ou ganho de peso pode ter alguma relação com o funcionamento da tireoide?
A tireoide é a gasolina do corpo, age estimulando o funcionamento e diversas funções nos diferentes órgãos, portanto ela estimula o metabolismo e o gasto energético. Quando a tireoide esta funcionando, menos no caso do hipotireoidismo, a paciente vai ter um gasto energético reduzido. Além disso, ocorre retenção de líquido o que ocasiona um aumento de peso em torno de 10% do peso corporal.
No hipertireoidismo ocorre o contrário, há um aumento do metabolismo e do gasto energético que a paciente não consegue compensar com o concomitante aumento do apetite. Mas, devemos salientar que é um mito dizer que uma pessoa é gorda ou magra porque tem problema de tireoide. Estas disfunções causam alteração transitória do peso enquanto a paciente não está sendo tratada, uma vez que a paciente está recebendo tratamento adequado o peso vai depender da ingesta e do gasto calórico como ocorre com qualquer pessoa saudável.
5) O que estes problemas podem causar? Podem desencadear outros problemas de saúde a curto ou longo prazo?
No hipotireoidismo o(a) paciente vai apresentar um ou mais destes sinais e sintomas, que podem variar de intensidade conforme a gravidade da doença:
- Alteração de humor como desânimo e até depressão; Memória comprometida; Distúrbio do sono; Pele seca; Queda de cabelo; Intolerância ao frio (sente mais frio do que o normal); Edema (inchaço) de pálpebras principalmente, mas, também, edema de pernas e mãos; Obstipação (intestino preso) nas mulheres pode haver alteração do ciclo menstrual até amenorréia (parada da menstruação); E em ambos os sexos pode haver diminuição da libido.
Caso haja demora no diagnóstico e tratamento pode ocorrer anemia, alteração do colesterol, aumento da pressão arterial, insuficiência cardíaca e raramente o coma, que ocorre mais em idosos quando o diagnóstico não é feito ou param de fazer o tratamento adequado.
No hipertireoidismo, os sinais e sintomas são opostos aos do hipotireoidismo, ou seja, o(a) paciente vai apresentar agitação; irritabilidade; alteração do sono (insônia); cabelos finos e unhas quebradiças; pele quente e úmida; intolerância ao calor (sente mais calor do que o normal); aumento da frequência de evacuações, podendo ter diarreia; alteração do ciclo menstrual (diminuição do intervalo e alteração de fluxo); taquicardia; e tremor das mãos.
Em longo prazo, o hipertireoidismo pode causar arritmias cardíacas, como fibrilação atrial; diminuição da massa magra (músculo); e diminuição da massa óssea com osteoporose e possível aumento do risco de fraturas em mulheres pós-menopausa.
6) Como manter a tireoide longe de problemas?
Não existe nenhuma dieta ou cuidado especial que possa impedir o aparecimento destas disfunções. Importante ressaltar que as fórmulas de emagrecimento, em geral, contém hormônio tireoidiano para aumentar o gasto calórico. Entretanto isto ocorre as custas de um hipertireoidismo que, como foi comentado acima, tem efeitos deletérios a saúde.
Portanto, é melhor não tentar aumentar a função da tireoide para emagrecer e assim evitar problemas.
7) Como estas disfunções na tireoide devem ser tratadas?
O tratamento do hipotireoidismo é feito com reposição hormonal, levotiroxina, que deve ser tomada diariamente, pela manhã, via oral e em jejum. O médico avalia, com exames de sangue, a função tireodiana e faz ajustes necessários de dose, baseado nos exames laboratoriais e na avaliação clínica da paciente.
No hipertireoidismo há mais de uma opção terapêutica, a droga antitireoidiana, o iodo radioativo ou cirurgia. O paciente pode ser tratado com medicamento que vai diminuir a produção de hormônio tireoidiano pela glândula (droga antitireoidiana), por um período que varia de um a dois anos. Neste período, em geral, o processo imunológico regride.
A outra modalidade de tratamento, quando o medicamento não é a melhor opção, como nos casos mais severos ou intolerância ao medicamento, é o tratamento com iodo radioativo que vai provocar morte celular, redução do volume da glândula e hipotireoidismo. No caso deste tratamento, o paciente vai precisar fazer reposição hormonal.
A terceira opção é o tratamento cirúrgico reservado para casos mais severos ou nos casos em que o bócio é volumoso (aumento exagerado da glândula).
Fonte: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia